Presidente leva Dilma e quase todo o seu
ministério para a festa de Natal na capital paulista Em festa.
O Presidente Lula chorou ontem durante a festa
de Natal com 2.200 catadores de papel em São Paulo - tradição que mantém desde o
início de seu primeiro governo e que pretende seguir em 2011, no governo de sua
sucessora Dilma Rousseff (PT). Ele se emocionou quando duas mulheres que vivem
da coleta de material reciclável o agradeceram. "O coração da população de rua
está repleto de gratidão ao senhor", declamou Maria Lúcia Santos Pereira, do
Movimento Nacional dos Catadores de Rua.
A Dilma - chamada em música de "mulher
guerreira", e ela respondeu dançando no palco -, o pessoal da rua pediu que dê
continuidade ao programa de Lula. "Advogue essa causa, não nos deixe
esquecidos", clamou Matilde Ramos da Silva, catadora no município de Ourinhos
(SP). "Contem comigo", prometeu a presidente eleita.
Ela afirmou que "não vai descansar" enquanto
não tirar os catadores dos lixões. Disse que se empenhará para o reconhecimento
da profissão, para a organização de cooperativas e para que todos tenham renda
suficiente para darem vida digna a seus filhos.
Não eram só brasileiros na festa. Catadores
peruanos, colombianos, argentinos e de outros países foram ao encontro na Vila
Guilherme, zona norte da capital. Lula pediu a todos que orassem pelo
vice-presidente José Alencar, que luta contra um câncer no abdome. Padre Júlio
Lancellotti puxou o Pai Nosso. "O Zé Alencar disse que até mesmo em cadeira de
rodas ele vai à posse da Dilma. Com essa energia positiva de vocês tenho certeza
que ele vai poder cumprir seu desejo", disse Lula.
Foi um dos últimos compromissos públicos do
Presidente antes do fim de seu mandato. Lula levou para a festa quase todo o seu
ministério. Ele e Dilma autografaram camisetas e receberam mimos dos catadores,
que se apresentaram com danças e cânticos "ao presidente "saínte" e à presidente
entrante", nas palavras de Lula, que anunciou programas de ajuda aos catadores
com recursos públicos e assinou decreto de regulamentação da política nacional
de resíduos sólidos com engajamento de cooperativas.
Em seu pronunciamento, disse que "catar papel
não pode ser mais vergonha". "Morador de rua não é caso perdido nem caso de
polícia. É um caso de amor, de paixão e de políticas públicas, que não se trata
com cassetete."
O presidente reprovou administradores que
hesitam em firmar convênios com cooperativas de catadores. Citou Gilberto Kassab
(DEM), prefeito de São Paulo. "Trata o pessoal da Granja Julieta com carinho
Kassab, pelo amor de Deus."
Lula confirmou que serão entregues à
cooperativa dos catadores 140 caminhões por meio de um programa com recursos do
BNDES e do Banco do Brasil. "O senhor tem noção do que fez pela nossa vida? Só
saí do lixão por causa das suas políticas públicas. Podemos ser reconhecidos
como profissionais, como trabalhadores", afirmou Matilde.
Lula disse que no Natal do ano passado
recomendou aos jornalistas reportagem sobre os catadores. "Para minha surpresa
no outro dia eu li no jornal que fiz crítica à imprensa. Ao invés de dizerem que
eu fiz uma sugestão alguns disseram que eu queria ensinar a fazer jornalismo.
Vocês sabem qual é o problema do Brasil? É que muita gente continua agindo como
agiam há 20 anos sem se dar conta que o mundo mudou."
Ao final, pediu. "Estou apenas deixando a
Presidência, mas se vocês me convidarem no Natal do ano que vem eu estarei aqui
outra vez."