Mocidade, orador popular de sucesso no final dos anos 1960 em João Pessoa, capital da Paraíba, vivia de favores que lhe prestava o governador da época, João Agripino (UDN), seu admirador.
Dormia no Palácio da Redenção, sede do governo, e, quando queria, ali se alimentava. À noite, vez por outra, Agripino o chamava para jogarem conversa fora. Julgava-o muito inteligente e divertido.
Um dia, a propósito de uma manifestação estudantil no Ponto Cem Réis, no centro da cidade, Agripino soube que o orador que mais atacava seu governo era justamente Mocidade. Avisado pelo chefe da polícia, Agripino decretou:
“Deixe os estudantes em paz, mas me traga Mocidade de imediato”.
Mocidade escapou antes de ser preso, mas à noite apareceu no palácio para dormir. Agripino convocou-o à sua presença. Os dois travaram o seguinte diálogo que cito de memória:
“Seu Mocidade, quem lhe dá de comer?” – perguntou Agripino.
“O senhor”, respondeu Mocidade.
“Eu, não, o governo da Paraíba. E quem lhe dá abrigo para dormir?”
“Bem… É o governo da Paraíba”, retrucou Mocidade.
“Então, por que o senhor aproveita uma manifestação estudantil para atacar o governo?” – insistiu o governador.
Mocidade fez uma pausa e disse:
“É que governo só serve para apanhar, meu doutor”.
Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados, não é governo. Mas é uma figura pública poderosa, capaz de ajudar ou infernizar a vida de governantes. Está próximo o fim do mandato de Lira como presidente da Câmara – termina em fevereiro. Talvez por isso, ele anda com os nervos à flor da pele.
Bolsonaro não tem queixas dele, mas Lula tem demais.
Ricardo Noblat
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