Líder do governo na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, o deputado estadual Francisco do PT, disse, em artigo repercutido nacionalmente, que o presidente Jair Bolsonaro (PL) está no Estado, numa tentativa desesperada de recuperar a popularidade do seu governo às custas das águas da transposição do São Francisco.“A data escolhida é para aproveitar a correnteza das chuvas que aconteceram neste momento no rio Piranhas para fakear o volume real da água realmente emitida pelo Velho Chico. Dizer que é uma obra dele será fake. Dizer que a obra está concluída também é fake. Então vamos aos fatos sobre o projeto bicentenário e seus verdadeiros protagonistas”, afirmou.
Francisco do PT contou com detalhes que a Biblioteca Nacional assegura a existência de documentos de 1810, no final do Brasil Colônia, como primeira referência à transposição do São Francisco. No entanto, a ideia foi levada a cabo no período do Império, quando D. Pedro II, em 1847, ouviu a proposta de uma equipe de especialistas que ele havia indicado com o objetivo de apontar uma solução para a seca do semiárido nordestino.
O imperador brasileiro foi taxativo ao afirmar que “gastaria até a última joia da coroa, mas realizaria o encanamento’’ (este era o termo utilizado à época) que levaria água do rio São Francisco até o Ceará. Acabou o reinado de D. Pedro II e ele não gastou nenhuma das joias reais e muito menos fez sequer um milímetro de transposição. O deputado petista relembrou que foi só no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) que a obra se concretizou.
“Passaram 34 presidentes e quase 200 anos até que a primeira escavação fosse feita e construídos centenas de quilômetros de canais da transposição do São Francisco. O 35º presidente da República que tirou o projeto do papel. Ironicamente, um nordestino retirante da seca. O Nordeste sabe que a transposição deixou de ser conversa e se tornou realidade no governo Lula . O governo do PT fez mais de 90% de uma obra gigantesca que, nos dias atuais, conta com 477 km de canais em dois eixos (leste e norte), contendo quatro túneis de 23 km de extensão, 14 aquedutos, 27 reservatórios, nove estações de bombeamento, nove subestações de 230 kv, 270 km de linhas de transmissão e seis ramais interligados”, explicou.
Francisco do PT afirmou ainda que Bolsonaro falta com a verdade. “Diante deste banho de mais de 400 km de água fria nos planos de apropriação do mérito por Bolsonaro, é necessário alertá-lo que até fake news tem limites. Negar esta história é desafiar a inteligência do povo nordestino. O que Bolsonaro tenta fazer neste momento é o mesmo que Temer quis realizar em 2017, quando inaugurou uma obra incompleta e sem nenhuma grandeza política, tentando convencer que a transposição do São Francisco era mérito de menos de um ano de seu mandato golpista. Nem era dele e nem estava completa”, recordou.
“Bolsonaro é seca e o povo está querendo inverno”
Francisco do PT, que também é presidente da Frente Parlamentar das Águas, informou que sempre participa de visitas técnicas às obras do Projeto de Integração do São Francisco (PISF), promovemos debates, integramos a Frente Parlamentar das Assembleias Legislativas dos estados receptores das águas do rio e articulamos a II Caravana das Águas, cobrando a conclusão da obra e a garantia da inclusão do ramal do Apodi.
“Tudo isso com o único propósito de não deixar a transposição cair no esquecimento. Chega o presidente Bolsonaro querendo convencer o Nordeste que este antecedente não é importante. Se a obra da transposição fosse comparada a um consórcio, poderíamos dizer que Bolsonaro estaria reclamando o recebimento do bem depois que outro pagou mais de 90% das parcelas”, frisou.
O petista ainda alertou que a obra não está concluída. “O projeto original da transposição do São Francisco prevê a entrada de água no Rio Grande do Norte por dois acessos. A primeira é pelo Seridó, através do rio Piranhas. E a segunda descarga da água do Velho Chico no Estado será pelo Alto Oeste, por meio do canal do Apodi. Daí uma pergunta de mais de 100 km é aqui colocada: Cadê o ramal do Apodi? Como dar por concluída uma obra que está incompleta?”, questionou, argumentando que não se deve aceitar menos do que 100% daquilo que o Rio Grande do Norte merece.
Francisco do PT, que é professor de Geografia, ainda em seu artigo, disse que após saída da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), foi necessário a intervenção da sociedade civil organizada, como foi o caso da I Caravana das Águas, promovida pelos bispos do Nordeste com as participações dos comitês das bacias hidrográficas e a Comissão de Desenvolvimento Regional do Senado Federal, que era presidida pela então senadora Fátima Bezerra, para que se concluísse a obra.
“Relembro episódios importantes, a começar pela memorável inauguração popular feita por Lula e o povo de todo Nordeste, na cidade de Monteiro/PB. Quis Deus que este professor de Geografia e neste momento deputado estivesse naquele ato histórico”, escreveu.
AgoraRN