O diplomata Paulo Sérgio Pinheiro, ex-secretário de Direitos Humanos no governo Fernando Henrique, afirmou que a Lava Jato montou “um circo” em torno de Lula.
Segundo Pinheiro, esse tipo de ação contra Lula é, na verdade, “uma ameaça ao estado de direito no Brasil”. Paulo Sérgio Pinheiro foi também coordenador da Comissão Nacional da Verdade, no governo Dilma Rousseff, e atua desde 1995 em altos organismos de Direitos Humanos da ONU.
Me reporto ao diplomata porquanto a denúncia contra o ex-presidente Lula por suposta obstrução da Justiça no âmbito da Operação Lava Jato, que tramitava no STF (Supremo Tribunal Federal), foi encaminhada na última quinta-feira para a Justiça de Brasília. O caso deixou a suprema corte e foi para a primeira instância porque um dos denunciados, o ex-senador Delcídio Amaral (ex-PT), perdeu o direito ao foro privilegiado ao ter o mandato cassado em maio. Além de Lula e do ex-parlamentar, também são citados no processo o banqueiro André Santos Esteves, o pecuarista José Carlos Bumlai, seu filho Maurício Bumlai, Diogo Ferreira Rodriguez e Edson Siqueira Ribeiro Filho. Eles são acusados de terem se articulado para comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, que se tornou delator do esquema de corrupção da Petrobras.
Pois muito bem, caro leitor. No texto da denúncia original protocolado em dezembro, a procuradoria afirmou que Lula “impediu e/ou embaraçou investigação criminal que envolve organização criminosa, na qual teve papel central”. Inicialmente o procurador-geral, Rodrigo Janot, havia pedido que o processo fosse remetido para a Justiça do Paraná, onde ficaria a cargo do juiz Sérgio Moro, uma vez que os Bumlai já respondem a processos no estado. No entanto as defesas de Esteves e Lula entraram com representações para que a denúncia fosse dirigida para outro local, onde ocorreram os supostos crimes.
Lembro que os indícios de conspiração, captados nas gravações e reforçados pelas delações de Sérgio Machado e de seu filho Expedito Machado, contra José Sarney, Renan Calheiros, Romero Jucá e Eduardo Cunha são considerados por investigadores mais graves que as provas que levaram Delcídio Amaral à prisão, em novembro do ano passado, e à perda do mandato, em maio. De acordo com informações da própria imprensa, Delcídio tentou manipular uma delação, a do ex-diretor Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, enquanto Renan, Sarney e Jucá planejavam derrubar toda a Lava-Jato. Observe que no fim do terceiro parágrafo falo das acusações imputadas contra Lula pelo ex-senador Delcídio Amaral.
O Blog O Cafezinho publicou na época em que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pediu a prisão dos caciques do PMDB por tentativa de obstrução das investigações da Lava Jato o seguinte:
- O jogo sujo é evidente. Prenderam Delcídio Amaral e não prenderam Cunha, Jucá, Renan, por quê?
Ora, porque a prisão de Delcídio cumpria a função primordial de "prender o líder do governo", um senador do PT. Fazia parte da estratégia do golpe, aterrorizar os senadores, promover instabilidade política, gerar manchetes espetaculares contra o governo e contra o PT: "Líder do Governo, senador do PT, é preso".
Para tal, a Constituição foi rasgada, porque não se pode prender um senador a não ser em flagrante delito, o que não era o caso.
O dia em que um historiador estudar o golpe de Estado de 2016, terá de dar conta de uma enorme lista de ilegalidades, cometidas pelas maiores autoridades da república, para que a trama fosse adiante.
Prender Renan, Jucá, Cunha ou Sarney não cumpre nenhum objetivo estratégico para o golpe. Ainda. Por isso não os prenderam.
Não só isso. O juiz que assina a decisão de transformar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em réu é Ricardo Augusto Soares Leite, da 10ª Vara Federal de Brasília. Leite é conhecidíssimo, mas não por sua eficiência. Bem ao contrário. Juiz da Operação Zelotes, que apura esquema de corrupção no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, órgão responsável por julgar os autos de infração da Receita, o juiz que transformou Lula em réu teve a capacidade de ser denunciado pelo próprio Ministério Público Federal. Reportagem publicada pela Folha, em 20 de junho de 2015, mostrava o Ministério Público reclamando de várias decisões judiciais de Ricardo Augusto Soares Leite que dificultaram a obtenção de provas contra os fraudadores da Receita.
A pauta central desta semana não é mais uma ruptura política arriscada e violenta, mesmo que disfarçada por vias supostamente legais. A instabilidade política ainda assusta, porque atores importantes ainda não desistiram do golpe e o golpe só ficará completo não com o impedimento da presidenta Dilma, mas com a prisão de Lula.
E antes que algum aventureiro lance algum tipo de crítica quanto ao que estou a dizer, afirmo que se comento uma notícia ou analiso um fato, ofereço minhas próprias conclusões. Cabe aos leitores refletir a respeito, concordar, divergir ou se manter indiferente. Jamais agredir.
Até porque dizer que jornalista é imparcial ou tem obrigação de ser é um dos mitos cultivados há mais de séculos.
Ninguém é imparcial. Porque você é obrigado a fazer escolhas a todo instante. E ao fazer toma partido.
Quando destaco mais uma notícia do que outra faço uma escolha. Tomo partido.
Quando opino a respeito de qualquer coisa tomo partido.
Cobre-se do jornalista honestidade.
Não posso inventar nada. Não posso mentir. Não posso manipular fatos.
Portanto, faço questão de opinar e como diz o diplomata Paulo Pinheiro, esse tipo de ação contra Lula é, na verdade, “uma ameaça ao estado de direito no Brasil”.
Para o script ficar completo só prendendo Lula
Tenho dito!