quinta-feira, 23 de junho de 2022

Mesmo tendo vários ministros envolvidos em escândalos, Bolsonaro insiste em dizer que não há corrupção no governo


Na manhã em que a Polícia Federal cumpriu um mandado de prisão contra o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro, por participação em um suposto esquema de corrupção na pasta, o presidente Jair Bolsonaro (PL) repetiu que há “corrupção zero” em seu governo, desta vez em entrevista à rádio Itatiaia. É a alegação falsa mais reprisada pelo presidente, dita ao menos 209 vezes durante seu mandato, segundo o contador de declarações do Aos Fatos.

 
A primeira vez em que Bolsonaro recorreu à alegação foi em dezembro de 2019, dois meses depois de a PF indiciar o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG), então ministro do Turismo, alvo de uma investigação que apurava o crime eleitoral de omissão de prestação de contas e o crime de associação criminosa. À época, o presidente dizia completar 11 meses de gestão sem irregularidades.
 
Só na segunda metade de outubro de 2020, a declaração falsa foi repetida nove vezes. No dia 14 daquele mês, o então vice-líder do governo no Senado, Chico Rodrigues (União-RR), foi flagrado com cerca de R$ 30 mil na cueca em operação da PF que apurava desvios de recursos públicos destinados ao combate à pandemia de Covid-19 em Roraima.
 
Em julho de 2021, pouco depois de a CPI da Covid no Senado começar a apurar possíveis irregularidades no processo de compra da vacina Covaxin e uma suposta cobrança de propina por parte de servidores do Ministério da Saúde, Bolsonaro repetiu 23 vezes que não havia corrupção em seu governo. “Hoje podemos falar disso porque estamos com dois anos e meio do início do nosso governo sem uma mácula sequer sobre corrupção, demonstrando na prática como poderíamos mudar o Brasil”, disse em discurso no dia 27.
 
Um mês antes, o então ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (PL), pediu exoneração. Ele estava sendo investigado por supostamente favorecer a atuação de madeireiros ilegais na Amazônia.
 
Em outubro de 2021, Bolsonaro foi alvo de um pedido de indiciamento pelo relatório final da CPI da Covid no Senado, ao lado de ministros e ex-ministros. Entre os crimes atribuídos pelos senadores ao presidente estavam prevaricação, emprego irregular de verbas públicas e falsificação de documento particular. Naquele mês, Bolsonaro disse ao menos 16 vezes que completava três anos de mandato sem irregularidades. Nos dois meses seguintes, repetiu variações da frase outras 22 vezes.
 
Reportagem do jornal O Estado de S. Paulo revelou, em março deste ano, o suposto esquema de favorecimento de pastores evangélicos no MEC. Bolsonaro afirmou dez vezes naquele mês que não havia corrupção no governo. “No passado, toda semana você via escândalos de corrupção, agora você não vê mais”, disse, em encontro com apoiadores no dia 16. Em live no dia 24, o presidente tentou dissociar o ministro Milton Ribeiro do esquema e afirmou que colocava “a cara no fogo por ele”.
 
Depois da fala da “corrupção zero”, a segunda alegação falsa mais repetida pelo presidente é de que o governo federal foi impedido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) de atuar durante a pandemia de Covid-19 (129 vezes). A prerrogativa de denunciar criminalmente o presidente da República e seus auxiliares de primeiro escalão cabe à PGR (Procuradoria-Geral da República), hoje comandada por Augusto Aras. Não foi oferecida denúncia criminal em nenhum dos casos citados nesta reportagem.

 

Fonte: Aos Fatos



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