quinta-feira, 14 de maio de 2020

"As milícias bolsonaristas não vão aceitar alternância de poder e as esquerdas precisam se precaver", diz historiador

O historiador Daniel Aarão Reis considera que a base política, paramilitar e militar de Jair Bolsonaro é formada por "um pessoal truculento, agressivo". Sua percepção é que esse contingente "está muito autoconfiante. Pior: "Têm armas na mão e, provavelmente, vão usá-las se não forem dissuadidos”.
Em entrevista a Laércio Portela, o historiador, que é um especialista em revoluções socialistas no século XX e pesquisador das esquerdas e da ditadura de 1964 no Brasil, adverte para a ameaça que Jair Bolsonaro representa para a democracia no país. Segundo sua análise, Bolsonaro constituiu um dispositivo de milicianos e paramilicianos ligados às polícias militares que não vão aceitar a alternância de poder.  


"Eu venho há muitos anos tentando chamar a atenção para as correntes autoritárias da sociedade brasileira, que inclusive atravessam a sociedade de alto a baixo, não estão só presentes nas elites sociais. Uma tendência geral que é muito autoritária e estrutural. A partir do bolsonarismo, as pessoas passaram a reconhecer essa evidência", diz. 
"Para a compreensão do bolsonarismo eu tenho introduzido a necessidade de refletir sobre duas outras dimensões, sem desprezar essa tradição estrutural. Uma delas é o que eu chamo da grande conjuntura, que vai desde o processo da transição para a democracia até o ano de 2018, quando houve as eleições que consagraram Bolsonaro. É uma grande conjuntura de 30 anos, no contexto da qual você teve muitas decisões políticas que foram contribuindo gradativamente para, de um lado, a manutenção dessas tradições autoritárias e, de outro lado, uma certa desilusão do sistema que foi sendo construído com base na Constituição de 1988". 

Nenhum comentário: