quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

"Enquanto Flávio afunda, Jair se escora em Moro"-Por Josias de Souza

A conjuntura das últimas horas está crivada de ironia. No Brasil, o caso que envolve o senador Flávio Bolsonaro migra rapidamente do estágio de escândalo para a fase do escárnio. Em Davos, na Suíça, Jair Bolsonaro, alheio ao derretimento da imagem do seu primogênito, queixa-se de ter herdado “o Brasil em uma profunda crise ética, moral e econômica.” Espremido entre as desculpas esfarrapadas do filho e o cinismo do pai, Sergio Moro empresta sua respeitabilidade e sua boa imagem para serem utilizadas por espertos. Integrante da comitiva que acompanha Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial, Moro participou nesta terça-feira (22) de um painel sobre combate à corrupção. Ao final, foi inquirido por um repórter a respeito da movimentação bancária suspeita de Fabrício Queiroz, o ex-faz-tudo de Flávio Bolsonaro. Refugiou-se atrás de evasivas: “Não me cabe comentar sobre isso, mas as instituições estão funcionando.”
Horas depois, ao pronunciar seu mini-discurso de seis minutos no palco principal de Davos, Bolsonaro referiu-se ao seu ministro da Justiça como “o homem certo para o combate à corrupção e o combate à lavagem de dinheiro”. Fundador do fórum suíço, Klaus Schwab, perguntou ao presidente brasileiro quais são os seus planos para combater a corrupção que roeu a logomarca “Brasil”. E Bolsonaro: “Sergio Moro é conhecido de vocês. A ele foi incumbida essa missão. (…) Ele tem todos os meios para seguir o dinheiro.”
Em dezembro, dias antes de apossar-se de uma poltrona na Esplanada dos Ministérios, Sergio Moro declarou o seguinte: “Eu não assumiria um papel de ministro da Justiça com o risco de comprometer a minha biografia, o meu histórico.” Ele foi ao ponto: “Defendo que, em caso de corrupção, se analisem as provas e se faça um juízo de consistência, porque também existem acusações infundadas, pessoas têm direito de defesa. Mas é possível analisar desde logo a robustez das provas e emitir um juízo de valor. Não é preciso esperar as cortes de Justiça proferirem o julgamento.”

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