O ano é 2021. É o início da gestão do prefeito
Allyson Bezerra (UB) que ainda estava se ambientando a respeito do funcionamento da máquina pública municipal e tinha total interesse de impor um ritmo de entrega de obras.Foi aí que o destino de Allyson se cruzou com o de Francisco Erinaldo, um irmão de fé, que congregava na mesma igreja evangélica que o prefeito recém-empossado. Os dois se conheciam há mais de 15 anos e estabeleceram uma relação de confiança que viria a se quebrar nos dois anos seguintes, por meio de um longo e humilhante processo para o pequeno construtor, que demorou um para perceber que estava envolvido em uma trama em que era um mero joguete nos interesses do poder.
Com as empresas grandes a frente de obras pequenas havia a lentidão na entrega de obras como as reformas de praças, daí a necessidade de sublocar os serviços.
Foi assim que Erinaldo foi procurado por Eudócio Mota (guarde bem esse nome) no dia 5 de maio de 2021, quando estava trabalhando em uma obra privada.
Ele informou a Erinaldo que as obras de quatro praças estavam paralisadas e que ele poderia tocar o serviço mesmo sem ter participado de qualquer licitação. O outro convite foi para fazer a obra de manutenção e pintura do Museu Lauro da Escóssia, cuja licitação foi vencida pela Construtora A & C, do engenheiro Cláudio Escóssia.
Esse serviço custou R$ 50 mil, sendo que Erinaldo relatou ter recebido apenas R$ 45 mil. Ele relata que a obra foi visitada por Allyson, inclusive eles conversaram nesse dia. Além disso, servidores envolvidos na obra sabiam que ele estava a frente destes serviços, inclusive recebendo cobranças do secretário Rodrigo Lima.
O pagamento foi realizado por uma terceira empresa, identificada como “Inove”.
As outras quatro obras somam R$ 2.000.031,00. O que Erinaldo não sabia é que não estava lidando com um mero colega construtor, mas com o atravessador de um esquema de corrupção.
Segundo a denúncia de Erinaldo, que está em segredo de justiça, ao Ministério Público, as obras estavam sob responsabilidade da construtora FFJ. São elas: reforma do Mercado do Alto da Conceição; Praça da Pirâmide no bairro Belo Horizonte; Praça do Portal do Saber no bairro Abolição I; e Praça do Conjunto Liberdade I.
Ao longo da história, Erinaldo, que diz em gravação que tem prints e áudios de conversas, para receber havia a necessidade de uma divisão de propina que aquela altura estava no patamar de 26%.
Desse montante, 17% seriam da FFJ (a empresa que deveria realizar as obras), 5% para Eudócio e 4% para o prefeito Allyson Bezerra.
Durante a execução da obra, Erinaldo recebeu uma ligação para ir ao Palácio da Resistência, sede do poder municipal para uma conversa com Allyson. Ele aproveitou para perguntar quem era Eudócio. Ouviu como resposta a seguinte fala do prefeito: “É gente nossa! Uma pessoa de extrema confiança”.
Mas quem trouxe Eudócio para Mossoró? Segundo a denúncia de Erinaldo foi o então secretário de infraestrutura Brenno Queiroga. No final daquele mês de maio, ele deixaria a pasta para ocupar a esvaziada Secretaria Extraordinária de Projetos e Programas de Governo.
Brenno não vai aparecer muito nessa história. Bem diferente do seu substituto Rodrigo Lima, que passaria a ser um dos protagonistas dos pesadelos de Erinaldo.
Brenno perdeu espaço na gestão, mas Eudócio seguiria influente e operando o esquema e realizando os pagamentos.
No desespero para receber, Erinaldo passou a procurar o prefeito Allyson Bezerra durante os cultos na Igreja de Cristo, no Bairro Planalto Mossoró.
Allyson passou a ignorar o irmão de fé até perder a paciência e soltar uma frase emblemática, mas isso você vai ficar sabendo nas próximas reportagens.
Silêncio
O Blog procurou o prefeito Allyson Bezerra que bloqueou o editor desta página no WhatssApp. Também entrou em contato com o secretário municipal de comunicação Wilson Fernandes que não respondeu.
Só o advogado Caio Vitor Barbosa falou com a reportagem dizendo que as informações não procedem e em seguida nos desejou um “bom trabalho”. Não sem antes afirmar de forma enigmática: “não posso ser seu advogado”.
Blog do Barreto