O racha que se iniciou entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente do PSL, o deputado federal Luciano Bivar (PE), provocou uma coleção de reveses na articulação entre Executivo e Legislativo nesta semana.
Até o momento, o governo já depôs a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança no Congresso e a imagem do presidente ficou marcada pelo xingamento de “vagabundo” proferido em gravação pelo deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO). A reação do parlamentar se deu em função da manobra de Bolsonaro que quase conseguiu afastá-lo do cargo de líder da legenda na Câmara para emplacar à frente o seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-RJ).
Doutora em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e professora do curso de graduação em Ciência Política na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Tamara Ilinsky Crantschaninov é direta ao avaliar o cenário: Bolsonaro “demonstra uma incapacidade total”, enquanto presidente, com a sua própria base. “Nem dentro do partido ele está conseguindo criar algum tipo de consenso”, destaca, em entrevista à jornalista Marilu Cabañas, da Rádio Brasil Atual.
Na prática, é toda a interlocução com o Congresso que Bolsonaro deixa comprometida. Isso porque, se a articulação entre os poderes já vinha prejudicada, agora, com as disputas internas elevadas ao nível de crise nesta semana, a relação com os outros partidos fica ainda mais difícil. “Uma característica do nosso sistema político é a necessidade da presidência ter coalizões fortes dentro do Congresso para conseguir governar, então vai ser curioso verificar como serão os próximos meses de governo Bolsonaro”, observa Tamara.
Por enquanto, a permanência do Delegado Waldir à frente da liderança é incerta, mesmo assim, o parlamentar tem sinalizado que não irá divulgar a conversa que “implodiria” o presidente Bolsonaro, como afirmou em áudio vazado em reunião com parlamentares do PSL. Por outro lado, Joice Hasselmann não tem evitado emitir críticas a Bolsonaro, a quem descreveu ter uma “inteligência emocional -20”.
Na análise da doutora e professora, Joice pretende capitalizar o episódio para fomentar sua candidatura à prefeitura de São Paulo, descolando sua imagem de Bolsonaro e de seu núcleo familiar “É um processo que a gente vê ao longo desse governo, porque as pessoas estão tentando descolar sua imagem de um presidente desgastado, que se coloca nesse lugar de se comportar como uma pessoa rude, grosseira, que não dialoga não só conosco, com jornalistas, que ele sempre ofende muito, mas também com sua própria base”, avalia Tamara.
“O PSL é muito diferente de partidos tradicionais, orgânicos, que têm base social. Alçar um presidente que é ‘de fora da política’ à presidência, demonstra o nosso pior medo. As pessoas morriam de medo de ter alguém que era político, então escolhemos alguém que era ‘apolítico’, bem entre aspas, que está se revelando um completo incapaz de lidar com o nosso sistema democrático”, finaliza.
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