O senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) disse em depoimento ao Ministério Público do Rio (MP-RJ), no âmbito da investigação da “rachadinha”, que não se recorda de ter feito pagamento em espécie durante a aquisição de dois apartamentos em Copacabana, em 2012. Os promotores descobriram que, no mesmo dia em que a compra foi registrada em cartório, por R$ 310 mil, o vendedor dos imóveis efetuou ainda um depósito de R$ 638 mil em dinheiro vivo em um banco que fica a uma rua do cartório onde foi lavrada a escritura. Para o MP-RJ, a venda foi registrada abaixo dos valores negociados, e o pagamento em espécie foi feito no momento da escritura e com dinheiro oriundo do esquema das rachadinhas.
Questionado pelo MP se a aquisição envolveu algum pagamento em dinheiro vivo, Flávio respondeu:
“Que eu me recorde, não”, afirmou, referindo-se aos apartamentos em Copacabana. “Se eu não me engano, foi por transferência bancária esse sinal. Cheques. E, no dia, eu paguei as duas salas junto com a minha esposa no próprio cartório”.
Flávio foi questionado se ocorreu algum encontro em uma agência bancária para os pagamentos, e o senador disse que não se lembrava. Quando foi perguntado se sabia que o vendedor dos apartamentos tinha feito um depósito de R$ 638 mil em dinheiro vivo no dia da venda dos imóveis, afirmou que não sabia. “Se o cara tinha esse perfil, certamente não devia estar fazendo só isso, né?”, disse.
Agência bancária
O vendedor dos imóveis era o americano Glenn Dillard, que negociou em nome dos proprietários, o engenheiro Charles Eldering e o médico Paul Maitino. O pagamento aconteceu em duas etapas. Flávio e Fernanda Bolsonaro pagaram um sinal de R$ 100 mil por meio de dois cheques em 6 de novembro de 2012. No dia 27 de novembro de 2012, foram entregues mais dois cheques, que somaram R$ 210 mil, para totalizar a venda no momento da assinatura da escritura, que foi lavrada em um cartório no Centro do Rio, a 450 metros da agência bancária onde Dillard depositou os valores e a 50 metros da Alerj.
O MP descobriu que, no mesmo dia da concretização do negócio, Dillard esteve no banco e depositou, ao mesmo tempo, os cheques e R$ 638,4 mil em dinheiro vivo. Os investigadores relataram nos autos que Dillard não fez outras transações imobiliárias naquele semestre. Um ano depois da compra, Flávio revendeu os imóveis por R$ 813 mil. Em nota, a defesa de Flávio disse que vai questionar na Justiça “as notícias de vazamento das peças e áudios do procedimento que tramita sob sigilo”.
O GLOBO revelou no domingo que o senador admitiu em depoimento que a compra de 12 salas comerciais em 2008 teve o uso de R$ 86,7 mil em dinheiro vivo. Flávio disse que pegou o valor emprestado com o presidente Jair Bolsonaro e um irmão, sem identificar qual. Também obteve valores emprestados de Jorge Francisco, ex-chefe de gabinete do presidente e pai do ministro Jorge Oliveira. Francisco faleceu em 2018.
O GLOBO
Via BG