quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Bento 16 aponta hipocrisia e divisão na igreja


   Bento 16 usou o Evangelho segundo Mateus para, ao que tudo indica, apontar as verdadeiras razões pelas quais decidiu renunciar ao papado:
"Jesus denunciou a hipocrisia religiosa, o comportamento que quer aparecer, a atitude que busca aplauso e aprovação", leu, em tom de voz monocórdico, na sua última homilia e também última celebração na Basílica de São Pedro, durante a Missa das Cinzas, que dá início à Quaresma -os 40 dias que antecedem a Páscoa, durante os quais os cristãos realizam penitência para recordar o período bíblico em que Jesus esteve no deserto.
Não escondeu também que "o rosto da igreja é, às vezes, deturpado pela divisão no corpo eclesial".
A palavra "escândalo" tampouco esteve ausente da homilia: "Mesmo nos nossos dias, muitos estão prontos para rasgar-se as vestes diante de escândalos e injustiças, naturalmente cometidas por outros, mas poucos parecem disponíveis para agir sobre seu próprio coração, sua própria consciência e suas próprias intenções".
Por mais que, para renunciar, tenha alegado o esgotamento de suas forças, a versão de que, na verdade, Bento 16 foi derrotado pelas lutas de poder internas acabou prevalecendo na mídia italiana e internacional.
As palavras do papa só reforçam essa interpretação.
Até porque Bento 16 suportou bem os 110 minutos que durou a cerimônia, no fim da tarde de ontem, acompanhada por 8.000 pessoas no interior da imponente basílica de 387 anos e por incontáveis mais que, lotado o templo, postaram-se à frente dos quatro telões instalados na praça São Pedro.
Viram, é verdade, o papa usar uma espécie de andador, um estrado móvel, para percorrer os 45 metros da nave central até o altar, ladeado pelos dois impressionantes baldaquinos de Bernini.
Mas viram também que as mãos do papa, 85 anos, tremeram pouco ou nada quando levava à boca dos fiéis a hóstia consagrada.
Nesse instante, ficava ainda mais evidente o anel do pescador, símbolo oficial do papa, que será destruído no dia 28, antes das 17h (14h em Brasília), quando Bento 16 deixará o Vaticano a bordo de um helicóptero.
APLAUSOS NA MISSA
Às 17h em ponto, a procissão de praxe deu entrada. Logo depois, entrou um Bento 16 de rosto sério, que se manteve imutável pelos 110 minutos seguintes, apesar de alguns assistentes terem visto olhos marejados depois que o secretário de Estado Tarcisio Bertone, segundo na hierarquia, saiu da liturgia convencional para agradecer ao papa por "haver dado o luminoso exemplo de simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor, um trabalhador, porém, que soube, a todo momento, realizar o que é mais importante: levar Deus aos homens e levar os homens a Deus".
Seguiu-se um aplauso forte, contínuo, que durou cinco longos minutos.
Contraste total com o silêncio absoluto com que se ouviram as palavras do papa.
Silêncio e aplausos compartilhados pelos cardeais presentes. Eles, como Bento 16, vestindo a casula (o manto longo que cobre a batina) roxa, própria para a cerimônia de Cinzas.
A semelhança de roupagem reforçava a certeza de que um deles poderá ser o substituto de Bento 16, a partir de algum momento do próximo mês (se for possível concluir com êxito as votações no Colégio Cardinalício).
De todos os cardeais presentes, apenas dois eram negros, Peter Turkson (Gana, eleitor) e Francis Arinze (Nigéria, 81 anos e, portanto, não eleitor).
O papa cumpriu também o ritual de passar cinzas na cabeça de quatro dos cardeais, no que não deixa de carregar também um simbolismo: as cinzas são um antigo ritual que convida quem as recebe a refletir sobre o dever da conversão, de mudar de vida, de arrepender-se perante Deus.
Afinal, a hipocrisia e as divisões eclesiais a que o papa se referiu dizem respeito também, ou principalmente, aos cardeais.
DESPEDIDAS
A missa foi a primeira depois do anúncio da renúncia, na segunda-feira passada, e também será a última de Bento 16 no Vaticano.
Até o final do mês que marca o fim de seu papado, Bento 16 vai comandar uma oração dominical na praça São Pedro no dia 24 e uma audiência geral no dia 27, além de encontros com bispos e audiências com alguns chefes de Estado. A renúncia do papa está agendada para dia 28.
Ontem, antes da missa, durante a manhã, Bento 16 fez no salão de audiências do Vaticano a sua primeira aparição pública após a renúncia.
Bento 16 a justificou dizendo que sai por vontade própria e para o "bem da igreja".
"Tomei a decisão com plena liberdade para o bem da igreja, depois de ter rezado muito e examinado minha consciência perante Deus."
A audiência durou pouco mais de uma hora, num salão lotado com cerca de 10 mil de pessoas. Na maior parte do tempo, o papa permaneceu sentado. Quando a cerimônia terminou, cardeais fizeram fila para beijar o anel do pescador e alguns convidados cumprimentaram pessoalmente o pontífice.

Suplicy nega que sairá do PT para se filiar ao partido de Marina


 O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) negou nesta quinta-feira (14) que esteja de saída do PT para se filiar ao partido que a ex-senadora Marina Silva deve criar. O nome da legenda ainda não foi definido, mas deverá ter a palavra Rede como eixo.
Da tribuna do Senado, Suplicy disse ter conversado com o presidente do PT, Rui Falcão, para confirmar que vai permanecer na sigla.
"Vejo meu ingresso no Partido dos Trabalhadores como uma decisão de vida. Ademais, eu também defendo a fidelidade partidária até o final de meu mandato. Não cogitaria, de forma alguma, mudar de partido político, como um compromisso de princípio", afirmou.
Alan Marques - 27.ago.2008/Folhapress
Marina e Suplicy, no STF em foto tirada em 2008
Marina e Suplicy, no STF em foto tirada em 2008
Além do presidente do PT, Suplicy disse ter comunicado o ex-presidente Lula e o prefeito Fernando Haddad (SP) de sua decisão.
O petista conversou com Marina por telefone, na sexta-feira, quando disse ter recebido o convite para participar da reunião em que ela vai anunciar a criação do novo partido, a ser realizada neste sábado (16).
Apesar da decisão, Suplicy disse que pretende ser candidato ao Senado em 2014 pelo PT, mesmo com as especulações de que a sigla poderá ceder a vaga para um partido aliado, como o PMDB.
O senador defendeu a realização de "debates e prévias" dentro da sigla e com os aliados para a escolha do candidato.
"Vejo mais de 15 possíveis valores de excepcional qualidade no Partido dos Trabalhadores, que poderiam, legitimamente, também comigo disputar. Então, que possa haver debates e prévia. Eu gostaria que isso fosse aberto."
O petista disse que só abre mão de sua candidatura se o ex-presidente Lula decidir disputar a vaga ao Senado.
"Há uma pessoa que, se por ventura se candidatar, eu vou abrir mão da minha candidatura, o ex-presidente Lula. Neste caso, se ele quiser ser candidato ao Senado, ótimo. Então, aí, eu não vou disputar. Mas com os demais que eu mencionei, sejam companheiros e companheiras do PT ou de partidos coligados, eu acho justo."
Suplicy também defendeu que nomes de outros partidos, como Gabriel Chalita (PMDB), Netinho de Paula (PC do B), Aldo Rebelo (PCdoB) e Luiza Erundina (PSB) entrem nas prévias caso o PT ceda a vaga para alguma sigla aliada.
"Eu gostaria que houvesse a oportunidade de uma escolha a mais democrática possível. Então, que se realize um sistema de debates entre nós, potenciais candidatos, pré-candidatos, e daí uma prévia. Sugiro que possam votar todos os filiados de nossos respectivos partidos e também o povo."
Dentro do PT, o senador citou como "potenciais candidatos" Rui Falcão, Edinho Silva (presidente estadual do PT), Ricardo Berzoini (ex-presidente do PT) e os ministros Aloizio Mercadante (Educação), Alexandre Padilha (Saúde) e José Eduardo Cardozo (Justiça), entre outros.
A ideia do senador é que os filiados paguem entre R$1 e R$ 2 para cobrir as despesas com as prévias --modelo, segundo ele, adotado pelo Partido Socialista da França.
"Eles pagaram €1,00 para votar. Nada menos que 2.7 milhões de pessoas, muito mais que os 200 mil filiados, eleitores franceses votaram no primeiro turno para 5 pré-candidatos à presidência."