segunda-feira, 27 de junho de 2022

Fogos deixam animais com crise epilética, ouvido inflamado e até com ataque cardíaco

 


Após dois anos de restrições por causa da pandemia, potiguares aproveitaram o último fim de semana para curtir os festejos de São João. Por todo o Estado, foram realizados diversos arraiás e celebrações, com comidas típicas, fogueiras, quadrilhas e muitos fogos de artifício.

Mas, nem tudo é festa. Alegria para uns, sofrimento para os bichinhos e seus tutores.

Por causa dos fogos, nos últimos dias aumentaram bastante os relatos de cães e gatos com problemas de saúde em decorrência das explosões. Como os animais escutam e sentem cheiro muito melhor que os humanos, os fogos os incomodam muito mais – e levam a acidentes e problemas graves de saúde.

Veterinários ouvidos pelo PORTAL DA 98 FM relatam que, com a volta dos festejos juninos, muitos pets foram levados ao pronto-socorro nos últimos dias por causa do sofrimento causado pelos fogos.

O médico veterinário Pedro Vitorino Júnior, que atende na clínica Seu Pet RN, em Parnamirim, conta que nos últimos dias tem atendido vários casos.

Um deles foi o de uma cadela de 13 anos que deu entrada na clínica com crise epilética ocasionada pelo estresse dos fogos. “Animais com epilepsia, assim como os humanos, não podem ter fortes emoções. Ela deu entrada muito debilitada”, afirma Pedro. A cachorra teve de ser sedada até passarem os fogos naquela noite.

Ele conta que outra cadela, com 7 anos de idade, desenvolveu um quadro de otite (inflação no ouvido) e precisou ser medicada. No mesmo dia, o veterinário atendeu outra cachorra que chegou ao hospital tão nervosa que não conseguia segurar a urina.

A veterinária Gizélia Guedes, que atende no Hospital Veterinário de Natal, também lidou com um caso semelhante, mas dentro da própria casa. A cachorra dela desenvolveu um quadro de distensão gástrica (acúmulo de gases) de tanto latir por causa dos fogos.

Ela diz que os fogos são preocupantes especialmente para os animais que têm epilepsia ou cardiopatia. O estresse pode levá-los à morte.

Foi o caso de um cão atendido pelo veterinário Ciro Fagundes, que atua no Centro de Controle de Zoonoses de Natal. Ele diz que um cachorro cardiopata teve lesão cardíaca em função do estresse provocado pelos fogos de artifício.

O veterinário diz que, além desse caso, é comum que cães desenvolvam também bronquite por causa da aspiração de resíduos dos fogos.

Por que os animais sofrem tanto com os fogos?

Pedro Vitorino explica que os animais têm um aparelho auditivo muito mais complexo que os humanos. Além disso, o olfato também é mais elaborado. Os animais sofrem tanto com o barulho (eles escutam primeiro que os humanos, e com muito mais intensidade) quanto com a inalação dos resíduos de pólvora e chumbo dos fogos, que ficam no ar. Não são incomuns casos de intoxicação.

“Não é só o barulho. O cheiro também deixa eles com problemas. O cão tem uma sensibilidade elevada do olfato. Aquele cheiro do enxofre pode ocasionar um estresse elevado, visto que, se correntes de vento carregarem os odores de fogos de um lugar ao outro, os cães podem iniciar o estresse bem antes de começarem a soltar fogos no local. Até mesmo sem fogos eles sofrem. Basta o cheiro que eles ativam a memória de eventos passados”, conta o veterinário.

Quanto à audição, os animais sofrem porque conseguem ouvir frequências muito mais baixas que os humanos – e mais altas que as que a gente consegue captar também. Por isso, antes mesmo de os humanos ouvirem os fogos estourarem, os animais já começam a sofrer.

“Tem animal que chega sangrando pelo nariz, com epistaxe (sangramento pelo nariz) severa. Tem animais que se automutilam. Outros até chegam a óbito, como é o caso dos cardiopatas e dos epiléticos. São muitas ocorrências. E diversas reações. Quem solta os fogos muitas vezes não foi orientado que o estampido pode ceifar uma vida. E isso não é só sobre animais não. Idosos e pessoas convalescidas também sofrem”, destaca o veterinário.

Ciro Fagundes acrescenta que, além disso tudo, em situações de explosão de fogos, o corpo dos animais emite uma descarga grande de adrenalina, o que os leva a fugir ou se atirar contra objetos. “Ele sente que a vida dele está comprometida ou ameaçada”, pontua.

Nesse momento de fuga, explica Gizélia, os cães podem se machucar. “Por isso é preciso ter cuidado. Eles precisam ter um local seguro, em que possam ficar de apoio, um canto fechado. E precisa ser fechado, porque eles tentam buscar uma fuga. Nisso, podem cair. Cuidado com portões de ferro. Às vezes, eles tentam pular e ficam presos nos ferros”, afirma.

Portal 98 FM, via Blog do FM




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