O silêncio que antecedeu o primeiro jorro de água no leito do Rio Piranhas, em Jardim de Piranhas, era de expectativa contida. Gente de várias idades se aproximou devagar da margem. Muitos em silêncio, outros de mãos erguidas. Para alguns, a cena parecia distante demais para ser real. Mas aconteceu: as águas do Rio São Francisco chegaram de forma definitiva, sustentável e regulamentada ao Rio Grande do Norte — um marco histórico que teve seu ponto alto com a abertura das comportas da Barragem de Oiticica, em Jucurutu.
Maria Antônia da Silva, 67 anos, moradora de Jardim de Piranha, não conteve a emoção. “Essa chegada é muito boa, porque aonde há água, há tudo na vida. Isso é uma graça de Deus. Quem bota água para o nordestino é da parte de Deus. É maravilha demais. Chega dá arrepio de tanta felicidade”, disse, com os olhos marejados.
A cena da tarde desta terça (19) marcou a entrada oficial das águas do São Francisco no Seridó potiguar, dentro do Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF). O ato começou em Jardim de Piranhas e seguiu para a abertura das comportas da barragem de Oiticica, em Jucurutu, permitindo que o fluxo chegasse até a Armando Ribeiro Gonçalves, maior reservatório do estado.
No palanque montado às margens do rio, o ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, chamou a atenção para o que estava por trás do momento simbólico. O que parecia simples — a água correndo — só foi possível depois de um conjunto de decisões políticas e investimentos emergenciais.
“É preciso que as pessoas não esqueçam. Quando o presidente Lula voltou ao governo, não havia um centavo no orçamento da União para essas obras. No orçamento de 2023 não existia recurso para o Apodi, para Oiticica, para o sistema do Seridó. Era assim no Rio Grande do Norte, no Ceará, na Paraíba, em todo o Nordeste”, explicou.
Segundo o ministro, a primeira providência do governo foi incluir as obras de segurança hídrica na PEC da Transição, garantindo verbas imediatas. “Mesmo sem um novo PPA ainda, o presidente Lula destinou recursos já em 2023. Foi isso que permitiu começar a trabalhar e viabilizar a chegada das águas.”
Góes detalhou que parte essencial desse esforço foi a recuperação do sistema de bombeamento. “Quem traz a água para cá são as bombas do eixo norte da transposição, que começa em Cabrobó. São três subestações que precisam vencer desníveis de até 90 metros. Mas quando assumimos, as bombas da EBI 3 estavam quebradas, paralisadas. Sem elas, mesmo com o eixo pronto, a água não chegaria. Nós reformamos, revitalizamos e colocamos para funcionar novamente. Só então foi possível bombear água até o Rio Grande do Norte.”
O ministro acrescentou que novos investimentos foram autorizados para ampliar a capacidade. “Em Salgueiro, o presidente Lula assinou ordem de serviço de meio bilhão de reais para implantar novos conjuntos de bombas e duplicar o bombeamento, de 25 para 50 metros cúbicos por segundo. Esse é o passo que garante a continuidade do fluxo.”
Ao lado dele, a governadora Fátima Bezerra ressaltou a dimensão social do feito. “Eu nasci no Seridó paraibano e sei o quanto de dor essa seca trouxe ao nosso povo. Hoje celebramos um feito que não tem preço, tem valor humano e social. Essas águas chegam de forma planejada, consistente e contínua, para sempre”, afirmou.
O governo federal também retomou projetos de revitalização do São Francisco, como recuperação de matas ciliares, saneamento e desassoreamento. “Trazer água é fundamental, mas cuidar da fonte é o que garante que essa água seja permanente”, disse Góes.
No meio da cerimônia, as palavras do ministro davam conta do esforço político e técnico que fez a água correr. Nas margens, Maria Antônia traduzia em outra linguagem o que estava em jogo. Entre lágrimas, repetia: “Chegou dá um arrepiadozinho de tanta felicidade”.
Jana Sá
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