segunda-feira, 9 de setembro de 2019

EX PROCURADOR DA LAVA-JATO: "Bolsonaro tenta ‘subordinar’ MPF e PF"

Com 28 anos de Ministério Público, filho de promotor e um dos mais ácidos membros que passaram pela força-tarefa da Operação Lava Jato, em Curitiba, Carlos Fernando dos Santos Lima solta o verbo contra o governo Jair Bolsonaro: aponta tentativa de interferência do presidente na Polícia Federal e no Ministério Público Federal para salvar “os seus”, critica nomeação do novo chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR), Augusto Aras, nome fora da lista tríplice votada pela categoria, fala em “reação coordenada” e momento de “retrocesso total” para combate à corrupção e à impunidade no Brasil.
“A simples concordância com a absurda decisão do ministro Dias Toffoli em suspender as comunicações do Coaf e Receita Federal já demonstra a incapacidade de Bolsonaro em compreender a posição que ocupa. Agrava ainda seu desejo em interferir na Superintendência de Polícia Federal do Rio de Janeiro, indicador que pretende subordinar o interesse público ao seu interesse particular, compreensível, mas irrelevante, de proteger o filho”, afirmou Carlos Lima em entrevista exclusiva ao Estado, concedida por e-mail.
Procurador regional da República aposentado desde março e, atualmente, advogado especialista em compliance, Carlos Lima criticou ainda políticos, de quem não espera um “espírito republicado”, atacou a atual procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ao falar da saída de seis membros da equipe da Lava Jato na PGR, falou sobre tentativas de ingerência na Polícia Federal, sobre mudanças no Coaf, sobre o Caso Queiroz e disse que a Lava Jato vive seu pior momento. Para ele, Bolsonaro não entende seu “papel institucional”.
LEIA A ENTREVISTA
Estado: A Lava Jato vive seu pior momento?
Carlos Fernando dos Santos Lima: Não há dúvida sobre isso, mas a operação é muito resiliente. A população percebe que se trata de uma reação do sistema político viciado em dinheiro ilícito, com seus braços de interesses e conveniências em todos os Poderes, bem como na própria imprensa, que está tentando de todas as maneiras sobreviver.
Como acontece com ratos, encurralados pelo combate à corrupção, resolveram deixar suas desavenças de lado e atacar. Entretanto, como a população está cansada e conformada, e as eleições estão distantes, os ratos criaram coragem para reagir.
Estado: O sr. vê riscos de retrocesso ou riscos na agenda do combate à corrupção?
Carlos Lima: Já há retrocessos importantes. A transferência do Coaf para o Bacen, a diminuição da área de fiscalização e inteligência da Receita Federal pelo governo Bolsonaro são retrocessos. E são retrocessos significativos, pois indicam uma convergência de interesses do Executivo com a parcela do Congresso Nacional, que foi duramente atingida pela Operação Lava Jato, bem como com representantes desse mesmo sistema apodrecido em outros órgãos e Poderes públicos.
Estadão
Roberto Flavio


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